
Aderência. O principal fator para manutenção do treino/dieta. Se a pessoa NÃO GOSTA, ela não irá fazer, provavelmente. O problema é o seguinte: e quando a aderência vira auto referência, egocentrismo e falta de comprometimento com uma autoridade e disciplina?
Fernando Pessoa dizia que há três tipos de pessoas em relação à disciplina.
1. As que não sabem mandar em si, mas sabem obedecer. Ótimas para qualquer trabalho, desde que não tenham papel de liderança.
2. As que não sabem mandar, nem obedecer. São imprestáveis, resumidamente.
3. As que sabem mandar em si e sabem obedecer. São raras. O bom líder lidera pelo exemplo. E também sabe ser comandado.
O problema do termo aderência é que ele está virando uma versão gourmetizada da criança que bate o pé e diz “se não for assim, não quero”. Ou seja, basicamente o segundo tipo de pessoa, segundo F. Pessoa, está começando a achar que seu problema de comprometimento é sempre culpa de algo externo, de quem dá as ordens, e nunca de si próprio / algo interno.
Pessoas mimadas que já montam o discurso “não consigo seguir este plano, precisamos de um outro que me permita ser aderente e não me cause alguma neurose no futuro”.
O problema é semântico: aderência banalizou e virou eufemismo para "auto tolerância" perante desejos pessoais.
Mas se apenas uma pequena parcela das pessoas sabe se impor limites (lembrem-se: poucos impõe limites a si mesmo sem ajuda externa), será que essa abordagem flexível, tanto no treino quanto na dieta, é eficiente para um público geral? Ou é subterfúgio para agir de modo infantilizado?
Há indivíduos que só seguem estratégias onde o ego não possa ser ferido, optando pela máxima flexibilidade e mínima rigidez, assim nunca "falhará". Há um certo orgulho em nunca errar. Cria-se um plano ruim, cheio de brechas, cheio de opções, flexível e fácil de ser seguido apenas para não correr o risco de enxergar a realidade: a pessoa é frouxa no sentido da disciplina. A verdade dói.
Alguns só treinam se fizerem apenas os exercícios que gostam, evitando pontos fracos que deveriam ser trabalhados. Há pessoas que só aceitam dieta se tiver besteira ou algo de paladar infantil todo dia, a despeito de um estado pré-diabético ou de baixa sensibilidade à insulina, às vezes com péssimos marcadores em exames de sangue.
Há pessoas que fazem muito pouco e já acham que MERECEM recompensa imediata. A mente fala que o corpo merece, o corpo grita que não.
Às vezes os melhores planos tiram um pouco da liberdade no curto prazo, mas oferecem maior liberdade no longo prazo. Uma hora a conta chega.
Disciplina é liberdade.
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