Um mal moderno é a volatilidade do Instagram. O aplicativo em si, não tem nada de ruim: é apenas uma ferramenta. Você pode usar para se instruir. Ou para se distrair e perder o foco.
Uma coisa que reparei que tem aumentado em frequência: as pessoas, de tanto consumirem essa mídia social, sem reflexão sobre a função dela (entretenimento e conteúdo rápido), começam a agir que nem o próprio Instagram.
O usuário da ferramenta se torna a própria ferramenta - e isso se reflete nos treinos. Como?
Observem a necessidade das pessoas de buscarem uma rotina de treino que seja “o entretenimento” para elas. O treino deve ter um foco: melhorar em algo e depois extrair um prazer/honra dessa melhora que foi conquistada com suor. Mas isso está mudando: o treino agora tem que entreter, se não o fizer, descarta. Desliza o feed e muda.
O treino sempre deve ter um equilíbrio de algo que gostamos de fazer com aquilo que deve ser feito. Porém, reparem que o limiar de tolerância para o que deve ser feito é cada vez menor. Para alguns, atualmente, o treino se torna 99% o que eu quero e 1% o que é necessário.
E se o treino não agradar e cobrar demais: aí eu deslizo o stories e passo para o próximo treino. As pessoas estão ficando instagramáveis. A tolerância para atingir uma meta concreta no longo prazo é quase nula. A diversão tem que ser hoje, agora - está todo mundo muito intenso. Só que a vida real, de um adulto, não envolve simplesmente deslizar para o lado em tudo que não gosta. Há consequências.
Como podemos ver isso na prática? Nunca o treino de academia teve tanta variação como vemos hoje em dia. Nunca se foram utilizados tantos métodos avançados - mas não para ajudar em algo, e sim para criar variação pela variação. Leg press essa semana, leg com dropset na próxima, depois strip set, depois faz de lado, depois conjuga com nove exercícios. Existe sentido em tanta variação? As pessoas estão gastando todo o cartucho de variação de uma só vez. Mas e a especificidade?
Como progredir carga sem respeitar especificidade? Como melhorar em um movimento, se você não tem paciência pra praticar esse movimento por 3 ou 4 semanas seguidas? É claro que volume de séries e intensidade variam na periodização. É um princípio da própria periodização. Porém não dá para ficar variando toda hora, de forma brusca, a rotina. O corpo não vai evoluir assim - não dá para rotacionar tanto os exercícios. Notem que o problema está no exagero.
Não ter paciência para repetir exercícios por um breve espaço de tempo denota mais infantilidade do que qualquer outra coisa. “Ah mas está um pouco repetitivo” - Sim. Para melhorar em algo, é necessário repetição. Nem tudo vai ter cara de enredo de novela da Globo. Novelas são novelas. Vida real é vida real. Nem tudo precisa se resumir em entretenimento.
Quer passar em concurso público? Você vai estudar. Fazer notas. Rever notas. E rever várias vezes até decorar. Quer aprender piano? Se prepare para repetir e decorar bastante coisa. Não adianta tentar tocar piano plantando bananeira só para “variar”. Isso é variar por variar, não tem fundamento algum.
Arrume uma rotina de treino. Siga ela por 4 semanas - apenas modifique sets e o percentual da carga. Observe como você irá progredir tecnicamente e ficar mais eficiente - sem precisar fazer uma salada de mista de vários exercícios simultâneos.
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