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Proibidão dos materiais IPF

  • Foto do escritor: André Jenz
    André Jenz
  • 11 de abr.
  • 6 min de leitura

A comunidade do powerlifting da IPF recebeu, de forma disruptiva, duas proibições nesta semana. Em primeiro lugar, as joelheiras de maior suporte e rigidez. Logo depois recebemos a proibição dos equipamentos (racks e barras) da Hansu.


Vamos focar nas joelheiras. Em primeiro lugar, observar os termos. A começar pelo neoprene.


As joelheiras foram proibidas pois, segundo a IPF, não houve respeito à regra do material de neoprene predominante, que deveria ser de camada única.



Foco no item (a)
Foco no item (a)

1- A regra estabelecida sobre o material se referia à sua substância, do que é composto, não a respeito da sua função.


2- Neoprene, como sabemos, tem uso desde roupa de mergulho até selaria. Então, a despeito de ser o mesmo material, sua função pode ser diferente em circunstâncias diferentes.


Nem todo neoprene é igual.


Há dois caminhos para se modificar o neoprene:

1- se modifica sua estrutura celular, que pode ser aberta ou fechada, com um diferente grau de "espumação" e quantidade de bolhas de ar presentes. Pense na diferença de uma luva de sparring x luva de saco de pancada. Uma se molda ao golpe, outra resiste.


2- se vulcaniza o neoprene, buscando mais ou menos crosslinking (maior ou menor rigidez). Há uma modificação química das cadeias poliméricas.


Em ambos os desfechos, o que antes era neoprene continua sendo, em essência, neoprene.


E aí temos o primeiro debate com o livro de regras.


Todas as marcas estavam dentro da regra no quesito material utilizado.


O que faltou na regra, foi uma medição da ajuda que o material poderia ofertar, assim como uma medição da rigidez.


Proposta 01



Medição com dinamômetro
Medição com dinamômetro


Este teste, utilizado em tênis de basquete, poderia ser facilmente reproduzível em uma joelheira, tomando o ponto médio dela como referência e avaliando a quantidade de newtons necessários para dobrar até formar um ângulo de 90 graus.


Não é um teste perfeito, mas é um teste mensurável de certo modo da função em detrimento da forma. É um teste robusto. Isso já iria ter um efeito no mercado das joelheiras - se lembram que um dos vídeos que despertou curiosidade sobre a Inzer foi justamente de um atleta colocando uma anilha 1.25kg na joelheira dobrada e ela simplesmente catapultou a anilha?


Um segundo teste possível, seria para avaliar a rigidez do material utilizado., como foi feito abaixo com um durômetro.





A rigidez mensurada, se tivesse um limite, iria frear o grau de modificação da estrutura celular e crosslinking do neoprene. Não é um teste de função, mas poderia ajudar.


Reparem que todo o problema reside no fato da determinação do material, que em si era objetiva, mas que carecia de objetividade sobre a funcionalidade do mesmo.


Claro que há outras soluções possíveis, como uma regra na qual a pessoa coloca a joelheira e deve permanecer com ela durante toda a competição de agachamento. Isso também seria uma forma robusta de gerenciar o problema.


Das joelheiras em si - Prós e contras


A Inzer deu a largada com uma joelheira chamada Ergo Pro. O material era tão bom que rapidamente se tornou popular na comunidade, mesmo sem o aporte financeiro voltado para o marketing que nem grandes marcas como SBD e a A7. Inzer não tem o mesmo appeal que essas marcas. Ainda assim, o produto era bom e rapidamente se divulgou na comunidade via vídeos de influenciadores.


Outras marcas a copiaram logo depois. Não sei se foi o mesmo fornecedor, mas definitivamente o material das outras marcas era bem similar, apenas com maiores variações em relação à forma do mesmo, algumas joelheiras mais retas (Titan), outras em ampulheta (A7), e por aí vai.


Nessa corrida pelo melhor material, tivemos um avanço significativo entre as empresas -  o que é comum em qualquer esporte. Chuteiras melhoram, tênis de basquete também, as marcas evoluem. Isso faz parte.


Mas isso começou a gerar o seguinte problema: joelheiras extremamente duras que entravam e saíam com muita dificuldade do joelho, fazendo alguns atletas parecerem que estavam usando um artifício que demandava ajuda de mais pessoas para colocar e tirar.


Isso aconteceu porque as joelheiras com o novo material não seguem um true to size para a maioria dos casos. O Perkins, que antes de assinar com a SBD, utilizava a A7, disse que sempre usou joelheiras com size up da rigor mortis (pegando um número maior sempre). Isso permite utilizar no treino, praticar a técnica, para depois utilizar no campeonato com a mesma técnica, além dele mesmo colcoar e tirar sem ajuda. Ter algo que se utiliza apenas com ajuda de terceiros é arriscado.


E aí entra o ponto negativo dessas joelheiras: se você errar no tamanho, jogando para baixo, poderá perder parte da circulação após certo momento, o que força a colocar a joelheira apenas momentos antes de agachar. Se você comprime demais, você perde propriocepção, muda a técnica, afeta sua coordenação inter e intramuscular. O timing ganha mais importância, e alguns atletas tiveram vantagem com uma organização cronometrada para colocá-la no campeonato. Claramente isto foi uma mudança no jogo, é outro nível.


A resolução em si e o problema da fiscalização


Aqui reside o maior problema: as joelheiras foram aprovadas pela IPF para o período de 2022 até 2026.


Trecho do documento de material aprovado
Trecho do documento de material aprovado

As marcas fecharam um contrato e pagaram uma taxa à IPF. Seria ingênuo acreditar que a IPF iria romper o contrato sem pensar na implicação jurídica do mesmo. Seja devolvendo parcialmente a taxa, seja tendo que arcar com negociações novas. Este não é uma medida que não passa por discussão prévia antes.


Não pensem que as instituições não tratam essas questões como um xadrez - elas pensam sim nos próximos passos e riscos envolvidos.


A IPF depende destas marcas para todas as outras taxas de homologação, de inúmeros produtos - retaliação não é bom para ninguém. E esse debate entre as empresas, é com elas - os influenciadores pouco sabem do que está sendo acordado ou discutido no exato momento entre as partes.


A proibição pode impactar muito algumas marcas (joelheira era o carro chefe da Inzer para o raw), outras pode impactar bem menos - A7 já possui outros 2 modelos aprovados e a Stoic segue sendo uma das melhores joelheiras que já usei mesmo sem a nova tecnologia.


Mas, dito isso, temos que lembrar que no nosso país o preço das joelheiras é muito salgado. O que você gasta numa joelheira importada aqui pesa muito mais no bolso do brasileiro do que no bolso do americano/europeu.


E aqui reside o problema, algumas pessoas, com certa mesquinhez, apontaram com orgulho a decisão, sem pensar no cenário financeiro de outras pessoas. Não devemos olhar para o nosso próprio umbigo - o esporte está crescendo e há pessoas que juntaram uma reserva por alguns meses para comprar o material, teve gente que até vaquinha fez.


É uma total falta de empatia e descaso com o novo mercado que surge - isso sim que é grave. Se a medida fosse tomada em 2027, não haveria essa crítica absurda à decisão tomada. Mas, ainda assim, seria de bom tom o aviso prévio para as pessoas não adquirirem o material.


E mesmo entre atletas que possuem uma condição financeira melhor, nem sempre o foco deles está em investir no material no momento, então é desagradável ver pessoas investindo em algo para uma surpresa inesperada logo na sequência.


E neste ponto, a medida foi ruim também para a federação, pois expôs uma falha na fiscalização do produto, que claramente mudou.


Eu, por exemplo, tenho uma rigor mortis do ano 1. A minha joelheira é tamanho L, entra facilmente. Fui testar uma rigor mortis tamanho L 2025, não chega nem perto de entrar. Acredito que mesmo aguardando um tempo de break in, não conseguirei colocá-la, então algo mudou. Ou eu que peguei uma remessa cujo neoprene é pior, o que duvido (mas também é possível ter cortes mais ou menos rígidos dentro da mesma leva).


O problema para mim foi justamente essa questão do mercado consumidor e como algumas pessoas aqui foram bem prejudicadas. Lá fora, a joelheira pesa menos no bolso, então não acho que vá ter tanta ressonância quanto em países da américa latina.


Aguardaremos cenas dos próximos capítulos. Em breve uma review resumida dos materiais será postada aqui.




 
 
 

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