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O "No Pain, No Gain" deve acabar



Para alguns povos antigos, a dor tinha um caráter divino. Para Demócrito, a explicação era de átomos em forma de gancho causando dor; para Aristóteles, o sangue explicava.


Não havia clareza sobre o mecanismo da dor até o século XX, até alguns estudos na Alemanha. Com um experimento com alfinetes, Friederich Kiesow (1858-1940) conseguiu provar que existem partes do corpo sensíveis ao tato, mas não à dor.


A despeito da evolução nos estudos de fisiologia sobre nocioceptores, a associação de dor a algo bom ainda é presente e confusa. Para Guerra Junqueiro, por exemplo, "a dor é a escada de fogo que nos conduz à vida eterna".


"No Pain, No Gain" - A dor como legitimação do atleta mais provoca lesões do que melhora na performance. Há confusão entre DOR e ESFORÇO. Inúmeras pessoas associam sudorese extrema, dor aguda, desgaste excessivo à performance - indo completamente contra aos conhecimentos básicos de fisiologia. Em ambientes de academia onde as pessoas buscam a sua autoafirmação como atletas, essa mentalidade se espalhou rapidamente.


"Mas eu terminei o treino e não estou sentindo dor" - o treino é para estimular, não exaurir. Alguns atletas de elite convivem com algumas dores, mas um atleta lesionado, não compete no seu máximo. Quando uma dor aguda vira crônica, é grave: há estudos que inclusive relacionam dores crônicas com depressão. Um pequeno incômodo que se repete todo dia pode afetar sua saúde mental.


"Mas eu não suei tanto, não me sinto perdendo gordura" — Se gordura sumisse com suor, todo mundo que pega o trem ou ônibus no verão do Rio de Janeiro estaria seco e trincado. A Uruguaiana só teria vendedor com 8–10% de gordura.


Perdemos gordura principalmente na forma de CO2 (86%) e um pouco na forma de H20 (14%). Também não adianta ficar tentando respirar mais rápido (risos), esse processo é complexo, precisa de um estímulo real, uma demanda energética. De forma muito resumida, se movimente mais e coma menos. É só isso. Perderá gordura. Nosso suor não funciona como um ON/OFF para secar.


"Hoje pegou tanto que vomitei" é um outro mito que escutamos por aí. Não tem nenhum glamour nisso. Tu suja o chão e alguém ainda tem que limpar. Isso é apenas acidose alta.


Será que o Joseph Campbell, ao escrever o “Herói de mil faces”, deveria colocado o vômito como uma fase da jornada heroica? Será ele um elemento do arquétipo do herói? Me parece que não — não consigo imaginar o Aquiles vomitando na luta contra o Heitor, só pra poder apontar pro vômito após ganhar e gritar pros troianos “O DE HOJE ESTÁ PAGO”.


Como evitar a dor desnecessária em treinos de força:


1. Seguir algo próximo à tabela de Prilepin ao realizar treinos de força com barra livre. Você pode passar do número de lifts sugerido pela tabela em algum momento, não vai morrer por isso. Ainda mais se busca hipertrofia máxima. Porém há que tomar cuidado, se você treina até a falha sempre, há um risco. Busque a falha em movimentos mais simples e que demandem menos do córtex motor. Exemplo: evite falhar no agachamento, deixe a falha ocasionalmente para uma cadeira extensora.

2. Escolha um ou dois momentos do ano para inserir mesociclos que forçam a adaptação fisiológica ao treino. Os demais meses devem seguir um treino no qual a adaptação é mais espontânea, bem sutil. Ajuste seu pace de acordo com as competições e calendário! Quem treina no máximo sempre, não treina no máximo nunca.


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